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Mostrando postagens de dezembro, 2008

sincero testemunho de uma pobre feliz - parte 1

-O ano acabou e eu, mais uma vez, não cumpri a minha lista de objetivos. Primeiro, perdi os caroços de uva, que guardava na bolsa por que diziam que dava sorte. Não coloquei silicone porque o médico pensou que eu tinha mais de dois peitos e cobrou por quantidade indeterminada de objetos a serem aumentados. Não estirei meus cabelos porque começaram a dizer que tinha formol na fórmula. Que eu saiba, formol se coloca em gente morta, eu não morri ainda. Não viajei para a Pequim por causa que a macumbeira, que é minha vizinha, disse que o avião ia perder o controle, vagar no céu sem destino e cair no meio do deserto. Não sou muito de acreditar nessas coisas, mas a peste da mulher é tão ruim que eu tive medo de ser esmagada pela porta do aeroporto, sem chegar ao menos no portão de embarque. Não engravidei com medo de que alguma mutação atacasse meu filho. Só comi pão integral porque vi na televisão que pão de massa branca funciona como uma cola no estômago. Não comprei nada com o cartão de c

2008 e suas coisas.

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Imagens não falam mais do que palavras. Mas tem coisas que são coloridas demais para serem descritas.
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Quem quer salvar o urso? -Líderes mundias têm um ano para fechar um acordo que evite uma catástrofe climática. "Em 2008, o urso polar entrou oficialmente na lista americana de animais ameaçados de extinção. Segundo alguns cientistas, a região do Pólo Norte poderá virar água no próximo verão. Se a tendência continuar, nós, humanos, também sofreremos consequências. Apesar do risco, terminou em fracasso a Convenção do Clima que aconteceu em dezembro em Poznan, na Polônia. [...]" -Revista Época, página 84, 29 de dezembro de 2008. . . . Foi a reportagem que mais prendeu a minha atenção e a minha preocupação. Mais palavras não são necessárias diante de tais fatos. Se minha mãe deixasse, teria um urso aqui...cuidaria dele direitinho. É, mas ela não deixa...ainda bem; a casa dele é gelada demais. E deve continuar assim.

sozinho acompanhado

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Como um bom observador, estou fantasiado de pedão (vem de pedir) de ingressos. A sala do cinema ainda está vazia. Os ingressos apenas são recolhidos meia hora antes de começar o tal filme. A fila pequena se opunha ao amontoado de pessoas na suposta fila ao lado que permitiria aos fascinados por novidades assistir o filme de estréia . Certa e desconfortavelmente, a sala ficaria lotada, com pessoas ocupando todo espaço vago entre as paredes. O importante era assistir e contar a sua visão crítica distorcida sobre o filme tão esperado. A fila pequena era uma descompromissada fila. O casal apaixonado pouco se importava se alguém parasse na frente com um saco gigante de pipoca. As crianças corriam pelo saguão , despreocupadas, uma vez que o ingresso estava com os pais; estes conversavam e até riam das correrias infantis não se assustando quando a entrada foi liberada. A sala do cinema era suficientemente grande para suportar aquela resumida fila de pessoas ansiosas por boas risadas . Os

7. Ansiedade

Relógios são teimosos. Sem eles, o tempo seria mais livre para passar sem ser vigiado e nós inventaríamos algo para fazer enquanto a hora certa não chega. Mas eles existem e prendem nossa atenção, principalmente, quando queremos que o ponteiro da horas tenha a agilidade dos segundos. Que horas é esse mais tarde? . venha aqui mais tarde. se não puder sair de casa, . Mais tarde...depois da tarde vem a noite. Uma parte já decifrei, mas a noite é grande e tem muitas horas. Se não puder sair de casa...posso sair de casa até a hora de meus pais forem dormir, isso acontece lá pelas dez horas. Ainda são três da tarde e alguma coisa que me deixa inquieto, com uma vontade de girar o botão do relógio, sem sono está tomando conta do meu esqueleto de criança. Mamãe chama isso de ansiedade - os adultos têm nome para tudo. Se eu trancar a porta do quarto, foi para a varanda e gritar para o alguém do terceiro andar que estou sozinho, será que o alguém vai falar comigo? Eduardo ficou ansioso durante to

Não era, mas é.

Não some de vez. O tempo vai passando e o fantasma está sempre ali, aparecendo quando a sossego interior está quase se firmando. Uma só cumprimento, uma conversa de minutos causam dias de pensamentos e lembranças insistentes. Ao invés de os anos o levarem para longe, para um outro lugar, permite que ele faça visitas desavisadas e usando toda a naturalidade que uma intimidade findada na infância permite. Só a coragem deveria ter existido quando a decisão de ter o deixado ir foi tomada. Ela até existia, mas só impunha quando não era necessária. A traiçoeira coragem e a infeliz dona dela. Agora, esbanjo uma decisão apoiada numa base incerta que vai ser tomada para acabar com esse palco de neutralidade e falta de imposição que teve as cortinas abertas quando a dor da ausência de coragem sumiu. Sumiu não, se transformou em um dragão adormecido que quando pertubado, levanta o pescoço, assusta quem está por perto - eu-, vomita um corredor de fogo que não chega a queimar o coração, apenas o de
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Aqui é o lugar do capítulo 7, mas conversei com o chapéu e ele deu-me de presente de natal um espaço entre as coisas do Eduardo. Passei boa parte da madrugada lendo sobre o que muita gente acha sobre o natal, vendo muitas fotos do papai-noel, muitos gorros vermelhos espalhados por inúmeras cabeças e opiniões variadas - filosóficas, pessimistas, otimista,gulosas, esperançosas, emotivas... O mês de dezembro já é por si só uma grande euforia. As crianças estão de férias e sentem livres pelo fato de ainda ter janeiro todo para fazer o que quiser; o tal do décimo terceiro aparece e salva muitas vidas; a casa está toda enfeitada de luzes coloridas e estrelinhas, sininhos na porta, na janela, no banheiro, na televisão, na cozinha, no corredor, na escada, no seu pescoço (esqueci algo?); tem delírios imaginativos sobre as comidas que terão nos dias seguintes; tem o contaminação de mensagens copiadas no seu email; tem o recebimento de escassas e singelas, e cada vez mais difícies de serem escrit

6.Teoria quase certa

"Eduardo, você anda lendo esse livro? Eduardo, estou falando com você!", "Estou dormindo, mãe.", "Você nunca leu esse livro que seu pai e eu lhe demos no ano passado", "Que livro, mãe? O livro que a senhora está perguntando, pegaram emprestado", "Pois já lhe devolveram e você não está se lembrando." "O livro está aí??", "Eduardo, Eduardo...está na hora de acordar, já são meio-dia" Eduardo levantou-se da cama. Ao colocar os pés no chão, sentiu um papelzinho grudar no seus dedos. Quanto papel espalhado...sei que não posso falar, mas acho que minha mãe está ficando louca. Está aqui escrito que o livro está emprestado e que a pessoa que pegou só vai devolver, hoje. Mais um pedaço madeira amarrado num papel cai de algum lugar do céu, na varanda. Agora está chovendo papel, é? Só falta ser alguém avisando que vai pegar meu quarto emprestado e só vai devolver quando quiser! . obrigada pelo livro. coloquei em cima da mesa. .

5. Fique atento enquanto dorme

Estou sozinho em casa. Papai falou com Senhor Neo para dar uma olhada em mim enquanto eles estivessem fora. Meus pais e meu irmão saíram para um lugar onde crianças de menores de dez anos não podem entrar. Meu irmão tem doze; ele foi e vai passar a noite inteira educadamente sentado conforme as recomendações da mamãe. Eu sei que as comidas desses lugares são boas, mas virar estátua pra comer? Prefiro ficar aqui. Ao invés de olhar, Senhor Neo me chamou para a casa dele e fez um sanduíche enorme, sem alface e sem recomendações saudáveis do tipo: cebola faz bem para o coração, cenoura faz bem para os olhos, brócolis deixa os cabelos enrolados...sim e o que faz bem para a fome da barriga? Bem que o Senhor Neo poderia fazer muitos sanduiches para eu montar um estoque aqui no quarto; amanhã, penso nisso. Depois de acalmar minha fome, fui até a instante de muitos, muitos livros. Também tenho muitos livros; no meu quarto tem duas prateleiras de um metro (papai e eu que fizemos) que estão

4. Barulho na escada

A velha Zalu veio aqui, hoje, e disse que ia passar alguns dias viajando. Foi visitar o filho em alguma cidade com nome de santo. Como não vai demorar muito, acho que não vou chegar a sentir falta dela. Espero que volte até domingo, não quero enfrentar os arames do portão daquela velha. O melhor de tudo isso: o gata viajou! Não é desejando desgraça para aquele bigodudo , mas não seria nada ruim se ele perdesse a capacidade de miar. Nunca vi gato que não mia...ele poderia ser o primeiro. Mamãe teve a paciência de arrumar o meu quarto. Não que eu goste, mas estava precisando. Eu a ajudei com as arrumações e esconde coisas que se ela visse, com toda a certeza, jogaria no lixo. Minha mãe não consegue entender a utilidade de palitos de picolé fios velhos de telefone. Tenho um saco com mais de cinquenta palitos e eles já me foram bastante ú teis - fazer armadilha pro gato da velha Zalu , construir canoas para os meus bonecos marinheiros caçar formigas melando o palito com açúcar ... São

3. Uma noite sem sono

Não estou com sono. Ao invés de gritar, hoje, vou até a casa do Senhor Neo pedir para ele tocar algo diferente. "Senhor, Neo!", "Entre, Eduardo. Já estava na janela esperando o seu grito.", "Preferi vim aqui lhe desejar uma boa noite e... toca algo naquele seu instrumento que eu não sei o nome?" "Bandolim, Eduardo.", "Bandolim? Nunca escutei um bandolim.", "Só se você não se importar com os erros...há muito que não toco. Quer dizer, sei muito pouco de bandolim." "Tudo bem, Senhor Neo, também não entendo de bandolim.", "Então, suba, abra a janela e dê três pisadas fortes no chão...começarei a tocar. "Amanhã, lhe conto meu sonho, Senhor Neo." "Mesmo dormindo, Eduardo, fique atento. A noite é um mistério e só quem a desafia...", "Desafiar a noite? Tenho medo do escuro!", " Basta, ficar atento, pequeno..." Senhor Neo é muito confuso, às vezes. Como eu vou dormir e ficar atento

2. Os vizinhos

Quando eu era pequeno e tinha medo de dormir sozinho, o velho do primeiro andar dizia que enquanto a música estivesse tocando, nada aconteceria comigo. Acostumei-me a dormir o ouvindo tocar. Na hora de ir dormir, apareço na minha janela e grito, " Senhor Neo, boa noite!", "Incríveis sonhos para você, pequeno!". Ele não costuma me desejar uma boa noite; diz que ter sonhos incríveis é a melhor forma de tornar a noite boa. Ao acordar, eu que decidiria se a minha noite tinha sido boa. Ela não costumava ser ruim. Só quando não sonhava com nada, com nenhuma aventura e acordava parecendo que tinha dormido sem cerébro. A velha Zalu é uma boa pessoa, mas não achava isso antes. Uma vez o gato dela foi fazer o passeio diário e quase morreu atropelado pelo caminhão do lixo. Eu, que estava sentado na calçada brincando de bila, vi e fui salvar a vida daquele gato infeliz que passa o dia miando. Não gosto de gatos, são traiçoeiros. A velha Zalu não acha; ela tem um filho, mas não

1. Os andares da casa

É uma casa chamada Mundo de três andares sem grades nas janelas. Eu a chamo de Mundo pelo fato de ela ser muito grande e ter esconderijos preciosos e escuros descobertos nas minhas expedições vestido de pirata. No primeiro mora um velho simpático com um cabelo marrom com branco que toca violão, flauta e alguma coisa que eu não sei o nome toda noite. Moro no segundo andar com minha mãe, meu pai e uma irmão estranho. Costumam me achar estranho, mas eu não sou; ele quem é. Bem, o terceiro andar há muito não é habitado por alguém, que eu saiba. A casa é antiga; tem aparência de coisa que é guardada dentro de uma caixa e a cor desbotou. As paredes são de um azul desbotado e sujo e as portas e as janelas tem uma cor laranja, que quando abertas parecem retângulos pintados em uma tela azul desbotado e sujo. A rua é calma. Em frente a Mundo mora a velha Zalu que cobra mensalmente os aluguéis dos andares. Ela é uma velha boa e faz doces tentadores. O portão de entrada é cinza, tem umas pontinhas
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Eu até ia escrever, mas resolvi mudar a roupa do chapéu. Como uma criança que troca de roupa todo dia, o torto troca quando ele quer. Ele quer demais, exige demais, me acorda de madrugada dizendo que arranjou uma super ídéia. Tenho que controlá-lo... Foram muitas e inadequadas tentativas; umas não tinham uma cara torta, eram regulares demais. Outras eu gostava demais, mas o teimoso do chapéu (e o bozo) diz: -não esse não ficou bom. -mas eu gostei. -não é você que vai usar isso. tira logo! -se acalme, então passo um dia sem vim aqui. -você nao consegue... -me testa seu chapéu teimoso! -oh tira, por favor... -olha esse...parece contigo. -deixa eu provar...nossa, ficou ótimo. agora vai embora e me deixa aproveitar minha roupa nova. . . Essa foi uma. A frase eu inventei assim que vi a casinha na cabeça da baleia. É criativa, colorida, mas escura demais e o torto tem medo de baleia. Esse é lindo, mas o adulto do chapéu disse: eu já estou grandinho! Acredita? Beijo!
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Para quem não viveu isso de perto, apenas ouvir o que temos a relatar, não irá nos entender. Nem mesmo a mais expressiva descrição os farão sentir a intensidade de nossas emoções. Sorrisos transmitem mais que felicidade. Lágrimas não caem apenas por tristeza. Abraços são dados sem motivo algum. Beijos são trocados sem pedirem nada em troca. É algo tão singular, que entender vai ser algo muito complicado. Nossas orações pedem mais que proteção; pedem a eterna presença da singela felicidade que sentimos com os amigos mais sinceros de nossas vidas. Fazendo que o coração domine qualquer ação, neste momento, temos a certeza de que igual a eles, não mais haverão. Este ano chegou para nós com um misto de sentimentos, dos quais se destacam a alegria de estarmos juntos, a ansiedade pelo resultado desta etapa de nossas vidas, o aperto no coração pela previsível separaçao e a esperança de nos reencontrarmos por este mundo. Entre tantas caminhos que percorremos, duas coisas marcarão o caminho de t
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O palco é uma grande ilusão. A calma das cortinas fechadas esconde a correria daqueles que dão vida a alguma arte. Tudo é uma matemática decrescente. Sãos dias de espetáculos para anos de ensaios. São horas de maquiagem para minutos na luz. São dores adormecidas para semanas de antiflamatórios e fisioterapias. São meses de espera, esforço, trabalho, dedicação para momentos incomparáveis de emoção com hora marcada. Ser um artista é saber mentir liricamente. Já afirmei isso quando falei dos escritores; que são artistas. Os panos do palco - coxias, cenário - são o limite do nosso nervosismo. É lá onde orações são feitas, sapatilhas são ajeitadas, figurinos são revistados, abraços são dados e enquanto uma parte dança, a outra fica torcendo para que tudo corra bem. Quando aquele dupla pirueta que teimava não sair no ensaio acontece, tem uma torcida enorme, que acompanhou os momentos difícies, sorrindo e dizendo "ainda bem que deu certo". Pisar no palco quando as luzes estão acesas
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Theatro José de Alencar.
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Hoje, eu danço. O nervosismo cresce. Depois, eu escrevo. beijo chapéu!
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Devoradores de livros, a internet é incrível e de graça!Basta ter paciência pra procurar. Todos nós já sofremos com a vontade de ler um livro e não o ter nas mãos. Ter um amigo miserável que inventa toda desculpa para não nos emprestar a continuação do livro que tu lestes em um dia, mesmo sabendo do nosso histórico cuidado (se você for cuidadoso mesmo e devolver o livro como recebeu, eu te defendo; caso o contrário, compre o seu e acabe com ele). Como eu já tive muita e ainda tenho paciência (para procurar livros, não abuse), caso queira saber onde encontrar o livro que você quer ler e ninguém tem empresta, ou você não tem dinheiro pra comprar, ou você não quer comprar, diz pro chapéu aqui que ele tenta fazer o possível. Se ele demorar, é porque deve ter ficado lendo no caminho... E, se você souber de sites que nos disponibilizam livros, divulgue, deixe de egoísmo e nos diga, faça o favor! *William Shakespeare 1 - A comédia do erros : http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv0
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Há coisas que só prestam quando estão velhas. Se você já tiver usado algumas na vida, irá me entender; caso o contrário, me achará uma exagerada. Sapatilhas. Sapatilhas de ponta para ser mais específica. Sapatilha de ponta - aquelas usadas por bailarinas para ficar nas pontinhas do dedos - é algo intrigante; mais complicado do que simplesmente comprar um número maior do que o seu pé, costurar as fitas e usar. Compra-se a bendita. Ao colocá-las nos pés, elas deixam de ser simples sapatilhas e começam a sofrer o processo de conciliação e adaptação aos nossos sofridos pés. Nas iniciantes, elas não sentem pena alguma; maltratam, algumas vezes, até o choro, já que o ato de tirá-las significa deixar-se abalar por dores que, alguma hora, se tornarão rotineiras e quase indolores. Lógico que, esse tempo, por mais que tenha previsão de chegar, demora e cada ensaio com elas e uma tortura para os calos. Com isso, nós, as bailarinas, somos acostumadas a andar com uma bolsinha com sanativo e coisinh
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Já sei de que é feito as estrelas. Descobri, ontem, o motivo do colorido brilho delas. Desvendei o mistério da aparição delas apenas durante a noite. Agora, entendo o motivo do céu está quase sem estrelas durante a noite. Não me venha com motivos físicos e gigantescas contas de aritmética. Elas são abstratas demais; poucos os entendem. O que acabei de afirmar - de que é feito as estrelas - é algo muito simples. Inacreditável para aqueles que crêem nas coisas complexas. Visível para aqueles que dizem que só acreditam no que vêem. Fácil, muito fácil de provar a minha descoberta, já que existem pessoas que duvidam de tudo que as pessoas insistem em afirmar que é verdade. Se você for um dessas, eu não me preocupo com isso; daqui a algumas linhas vou lhe dizer o tão secreto ingrediente da estrelas. Foi, ontem, fazendo... não sei, depois que eu revelar a minha incrível descoberta, tenho medo de acordar no meio da madrugada devido a uma intensa claridade vindo da minha janela. Foi, ontem, faz

O Mundo de Flora

Para quem não tem conhecimento acerca da obra, não se preocupe. A leitura dela me foi imposta, embora tenha, no início, me causado imensa vontade de chamar a autora de louca. Porém, ao terminar a segunda leitura, admiro a ousadia complexa (ou sem-noção) e gosto muito do livro. . . O romance O mundo de Flora, de Angela Gutiérrez, autora cearense, retoma procedimentos estéticos, como a fragmentação, já utilizados por Oswald de Andrade nos romances Memórias Sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande. A ausência de um conflito central dá a cada fragmento narrativo uma importência que varia de acordo com a percepção do leitor, uma vez que é possível alterar a ordem da leitura dos capítulos sem que o entendimento geral da trama seja prejudicado. A autora dialoga com diversos gêneros, entre os quais a crônica, a poesia, o conto e a notícia, o que faz do livro um romance híbrido. A técnica de colagem revela-se como um quebra-cabeça de capótulos baseado na memória dos inúmeros narrador

metalinguagem

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-Autopsicografia - Fernando Pessoa O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as dores que ele teve, Mas só as que ele não têm. (...) . . . Já dizia Fernando.. Clarice dizia que suas palavras precisavam ser sentidas e não entendidas... Adélia Prado escrevia o que sentia, "Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina."... . Escritores são uns líricos mentirosos. Clarice não se achava uma escritora, ela se dizia uma amadora e queria ser sempre uma amadora - não suportaria a obrigação de ter que unir palavras; queria ser livre. Ser um escritor é poder mentir, inventar, formular desculpas que irão dar certo, fazer de um suposto final feliz um encerramento macabro e, ainda assim, deixar quem o ousa ler morto de satisfeito. A vida diária é, muitas vezes, uma monotonia. Eu afirmo: essa rotina monótona é melhor e mais suportável vivê-la do que lê-la - desconfie de mim, questio