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Mostrando postagens de maio, 2009

divina ação humana

Diário de Manoela, 16 de outubro de 1991 A missa já tinha começado quando cheguei. Não que quisesse assisti-la, era mais um costume do que uma vontade de encontrar paz naqueles sermões. Fiquei na escadaria, encostada no corrimão, a olhar aquelas filas de bancos cheios de pessoas aparentemente atenciosas. Fiz o sinal da cruz, desci os degraus com a mesma calma que um padre se encaminha para o altar e sentei em um dos bancos de ferro da praça em frente. Os bancos vazios emanava uma solidão fria que previa chuva. Pessoas passavam apressadas pela praça, alheias ao vento que balançava os galhos das árvores; aos cachorros que descançavam suas vidas perto da fonte sem passarinhos bebendo água. Tudo estava vazio. A alma daquela praça não tinha mais a mesma alma das praças dos tempos passados. Faltava na alma daquele lugar amor, música e sorrisos de vizinhos que se encontram por acaso. Minha avó, nas noites que dormia em sua casa com meu pijama verde, contava-me os segredos que aquela praça ain

sentindo a noite

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Pela janela eu vejo a cidade pulsando. São infinitos pontos de luz rasgando o escuro da noite. Meu coração pulsa e me deixa viva. A única luz que lá dentro ilumina é que os olhos insistem em ver. O sol já foi embora há tempos e a cidade já começou a dormir. É no silêncio da madrugada que as coisas emitem seus sons mais puros. As luzes da cidade iluminam ruas vazias e portas fechadas. Iluminam corações que de tão aflitos preferem vagar no sossego da noite. Um sinfonia de latidos começa e perfura a paz que rege o sono. Não tenho sono e meu coração anda nas ruas do pensamento atrás de alguma razão que o conforte. A emoção que antes se fazia tão presente se foi com o vento que passou quase agora. Durmo, não para descansar o corpo e sim para sonhar. Sonho, não para imaginar coisas impossíveis e sim para fazer com que o amor que existe em mim não morra. Relâmpagos brincam de enfeitar o céu. Trovões enchem de música esse silêncio que tanto acalma como desespera. A chuva está chegando e eu est

Atrás daquela porta

O escuro reinava soberano naquele castelo imaginário que era a garagem. Luca ia para lá, quando a tarde teimava e ia embora. A única janela que lá tinha dava para uma árvore grande e gorda de folhas. Quando estava no céu, o sol insistia em passar pelo meio daqueles galhos, pintando de dourado aquela garagem fria. Mas era difícil. A árvore era fiel a Luca; o conheceu ainda pequeno; simpatizou com seu jeito de menino esquisito da família desde a primeira vez que fora se refugiar e chorar no lugar mais distante e com cheiro de mofo da casa. Naquela tarde, os sonhos secretos de Luca foram ameaçados. O pai, não usando mais aquele espaço da casa, insinuou destruir a antiga garagem e fazer uma piscina. A família sabia que Luca tinha feito daquele lugar o seu mundo. Só não sabiam e nem queriam saber, o que ele fazia quando entrava pela porta amarela no final do corredor . Era melhor ele lá dentro, do que solto na rua. A mãe já se acostumara com as manias do filho e não se importava de ele pass

hoje, as palavras estão de folga

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a mortal dentadura de leite

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Minha prima está bangela . Ela está, mais do que nunca, com cara e jeito de criança. O dente de leite da frente caiu e agora tem uma janelinha que deixa a língua com vontade de sair. Ela sorri sem motivos e, quando alguém chega, ela logo mostra o lugar do dente que vai nascer forte e com ondinhas , o chamado dente permanente. Não sei se ela terá a sorte de ficar banguela dos dois dentes da frente ao mesmo tempo. A queda de um dente, faz as crianças se sentirem grandes. Aqueles dentes que nasceram quando elas eram ainda bebês estão caindo e estão chegando os dentes que irão sorrir vendo as fotos da infância, que irão morder outras bocas, que irão encostar nos dentes do outro nos segundos do primeiro beijo. Não se faz clareamento e nem coloca-se aparelho em dentes de leite. Eles duram tão pouco tempo, que é um crime machucá-los com toda aquela aparelhagem dos consultórios dos dentistas. Os dentes de leite ensinam as crianças a encarar a dor. Quem disse que arrancar um dente não dói? P

a primeira sapatilha

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A primeira sapatilha de ponta demora. O sonho de ficar nas pontinhas dos dedos e chegar mais perto do céu é grande e deixa os corações de bailarinas ansiosos. A primeira sapatilha de ponta é limpa, brilhosa e desconfortável. Na primeira aula, os pés quase quase não encostam no chão. O tempo vai passar, os primeiros calos aparecer e a dor chegar . E se preparem, pequenas, a dor nunca mais vai embora. Mas não fiquem tão assustadas, essa não é a pior do mundo. Até os movimentos saírem naturais, como se o corpo feito só para isso, é necessário repeti-los muitas vezes e, por mais que elogios sejam feitos, sempre será preciso mais aulas e mais ensaios. Uma vez, dançei com os dois pés machucados. Coloquei pomada para adormecer a dor, fiz um curativo, coloquei as sapatilhas e fui para o palco. A dor era grande, mas tinha que sorrir. A platéia não precisava saber que meus pés sangravam a cada passo que eu fazia. Minha vontade era tirar as sapatilhas e chorar, mas nunca sair antes que a cortina

pequena insônia

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Era madrugada e Taíssa estava sem sono. Leu algumas páginas de seu livro da capa verde. O sono insistia em não chegar. Imaginando-se num castelo, sentou-se na cama com as pernas cruzadas e escovou o cabelo cem vezes. Uma vez, tinha lido que princesas, antes de dormir, escovava o cabelo cem vezes. Abriu a janela e um vento frio invandiu o quarto sem cerimônia. Perdeu as contas e muitos fios de cabelo. Nem sinal de sono. Não tinha relógio no quarto de Taíssa, mas ela sabia que era tarde. Seu papai já estava dormindo, sua mamãe já tinha desligado a TV e o seu abajur estava quente. Ela sabia que quando o abajur estava quente era porque muito tempo já tinha se passado. Deus, por favor faça que eu durma, amanhã tenho aula cedinho. Taíssa deitou a cabeça no travesseiro e levantou as mãos. As unhas ruídas, um arranhão na ponta do dedo maior. Taíssa balançava as mãos como se estivesse se despedindo do escuro. Criou coragem, desligou a luz e se cobriu com o seu maior escudo: o lençol. Não sei se

Carta para o meu avô

Vô , muitas vezes, tenho pensado como seria se o senhor aparecesse de repente na porta do meu quarto, no dia do meu aniversário ,com o cabelo arrumado que nem o da foto 3x4 que tenho guardada e me abraçasse pela primeira vez. Vô , como o senhor me chamaria? Será que o senhor inventaria um apelido só pra mim e que nenhuma outra neta no mundo tivesse? Vô, um dia desses, sonhei que não podia me mexer. Era o senhor que estava me abraçando, num era? Confessa, vô, deixa de suspense. Por que não deixou eu o abraçar, também? Por acaso, vô, o senhor acha que eu tenho medo de fantasmas? Até tenho, mas do seu fantasma eu não tenho, não. Quando era criança tinha a fita do Gasparzinho, é, vô, o fantasminha camarada. Já assistiu? Vô, será que o senhor me reconheceria, mesmo nunca tendo me visto? Será que o senhor reconheceria meu pai? Ele não mudou muito. Quando o senhor o viu pela última vez, ele era muito pequeno. Agora ele está grande, vô, que nem o senhor naquela foto encostado em um caminh

Coisa do Outro!

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Palavras nascem para serem lidas. Palavras escondidas na gaveta são que nem bebês de proveta. Apenas existem, mas não vivem. Enfim, não vou, mesmo querendo, analisar aqui o ciclo de vida e união das letras. Coisa do Outro surgiu na ousadia de saber as coisas dos outros. É fácil, você pega um texto de outra pessoa (você é um outra pessoa pra mim, então se inclua nessa!), manda para o email coisadooutro@hotmail.com , espera o seu o seu texto ser lido, relido, corrigido, analisado, investigado, pensado, refletido , desdobrado, desamassado , virado ao avesso e pronto, o mundo inteiro conhecerá suas palavras! Obs : Isso foi uma grande hipérbole, foi só pra causar impacto e demonstrar seriedade. O blog começou há uma hora. No email não tem texto algum. Então, o que for enviado, com a mesma rapidez que acontece uma queda no banheiro de chão molhado, o texto será postado - óbvio que após ser pelo menos um mísera vez, só pra ter conhecimento de causa. O principal, e até agora único, critério

querer o infinito

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Quero sair daqui, fugir. Pisar em praias distantes Beber águas de longe Ir pro outro lado Sair do começo Ver o sol pelo avesso. Quero me jogar no mundo Me afogar em outros mares Me salvar em outros lares Me amar em outros ares. Quero me perder no dia Quero que você sorria Quero saber o que você faria Se soubesse que a noite não vai chegar Que o dia vai eternizar Que o mundo não vai se acabar Quero ficar O mundo vai continuar O sol não vai esfriar E eu não vou precisar me perder Nem correr. Se o mundo não tem fim Não quero fugir de mim Se o dia vai terminar A noite chegar Então eu vou andar E andando Eu vou chegar em algum lugar. -Isabelle Cristhinne 2 da madrugada. Bendita insôniaaaaaaaaaaaa!

ego, ego, ego meu.

Li muito essa semana. De outdoor à livros de sociologia e poesia. Observei as pessoas andando na rua e notei que quase sempre as mãos seguram alguma coisa. Andei na chuva sem pressa, só ficar toda molhada. Chuva não dói, prometo. Senti a quentura do sol na cabeça e desejei desesperadamente um gole d'água. Chorei assistindo a um filme - Escritores da Liberdade , com a Hlillary Swank. Escrevi, de madrugada, duas cartas com caneta azul. Tive sonhos de que tão reais, não se esvairaram do meu pensamento. Comecei muitos textos, mas os apaguei em seguida. Vi a saudade chegar de alguéns que estão a léguas de distâcia de mim. Dormi, tanto que acordei com os olhos inchados. Não vi a programação dos eventos da cidade. Ensaiei todos os dias e vi o cansaço se instalar nos meus músculos. Li Drummond e depois Milton Dias, deitada na rede e vendo as nuvens passarem na minha janela. Alimentei de esperança um de meus maiores desejos. Fiz uma prova de filosofia com um rapaz da minha sala, com o qual

texto dos outros!!

Não tente me encontrar em minhas palavrasbusque vocêNão tente me descobrir em minhas metáforasouça o que vibra em vocêNão tente entender minha poesiaEssa é a minha droga, a minha utopiaEssa é a minha toca, a minha abadiaa minha morte, a minha alegriaEsse é o meu delírioNão me reduza a uma sopa de letrasnão me traduzaNão me seduzaNão me encomende desculpasNão me comenteNão se contenteNão critique meus pontosentenda que são apenas contosNão simplifique os entornosolhe pra dentroNão classifique os pronomesNão troque os nomesNão adjudique os sentidosNão esclareça os perigosQuando me ler, ouça vocêSe não fizer sentidoaceite minhas desculpas pelo tempo perdidoMinha poesia transcende a mimMinha loucura espalha o carmimMinha caneta tem vida própriaMeu silêncio entorna, derrama, exclamaMeu desespero não é meué apenas a reverberação da tua almaMeus textos não deviam ser levados a sériosaem porque latejamescorrem rápidosem tempo de censurasem lógica e sem mesurasem ética, sem torturacomo um desej

pra peeensar mais.

Calma, aqui vai o remédio para quem se entortou pensando nos enigmas. Lá vai as respostas: - Enigma da corte: Um baralho de cartas! -Transparente: A janela (essa é fácil! haha) -Viajante misterioso: O selo postal (pensei até dormir e não descobri) -Palavras em fúria: "Língua". Está é a terceira palavra que compõe a nossa língua. - Cor misteriosa: amarelo (muitoo beeem, caio!) -Par perfeito: Elas são duas de trigêmeas! Tou um tanto que viciada nisso, mas descobrir sozinha é de deixar o juízo desesperado. -Pedido mortal A mulher pediu ao marido que fizesse algo para acabar com seu tormento, mas quando ele fez, ela morreu. Por quê? -Questão de túmulo Três coveiros cavaram, juntos, dez covas, mas nenhum homem cavou mais do que três. Como é possível? -O que os seguintes itens possuem em comum? -Um mão fechada Uma cabana na serra Um par de luvas Uma tapera Um oragotango -Charada Metade de nove é quatro. Metade de doze é sete. Qual é a metade de treze? beijo torto ;)

Pra peeensar!

Enigma da corte Uma dúzia de nobres reunidos, por dois bufões entretidos. Cda rei dez servos tem, mas homem comum, ningúem. Enfrentando o servo menos, o rei leva sempre a pior. Madeira impávida, metal brilhante, cálice sagrado, arma desafiante. De que estamos falando? - Transparente Há uma invenção ancestral, aindau sada em alguns lugares do mundo de hoje, que permite às pessoas verem através das paredes. Que invenção é essa? - Viajante misterioso Ele passa através de portas. Viaja grandes distâncias, até mesmo ao redor do mundo. Mas fica o tempo todo no mesmo canto. O que é? - Palavras em fúria Pense em palavras que terminem em -ria. Avaria e lataria são duas delas. Há apenas três palavras compondo o nossa língua. Qual a terceira? Você a usa todo dia. Se você leu o enigma com cuidado, vai encontrar a resposta facilmente. - Cor misteriosa Minha primeira, segunda, terceira e quarta são um verbo. Minha primeira, quarta, sétima, segunda e terceira, o cheiro. Minha quinta, sexta e sétima u

depois da chuva...

O que eu faço quando não quero me molhar em um dia de chuva? Fico em casa, óbvio. Mas quando quero me molhar menos, uso um guarda chuva, uma capa ou espera a chuva passar. Você, provavelmente, faz isso também. Previne-se. Se lhe perguntar quais os meses do próximo ano choverá, você saberá me responder, ou, pelo menos, preverá o período. Se você sabe disso, os responsáveis pelo escoamento da água da cidade também deve saber. A chuva é esperada, assim como os problemas causados por ela, caso não haja estruturas e condições adequadas de recebimento. Aqui em Fortaleza, chove com frequência desde o começo do ano. No início, era festa. O calor amenizado, as ruas mais limpas, as árvores verdes e bonitas. Agora, depois que a chuva fez uma parte do seu show, o desespero supera a felicidade. Por quê? Quando está nublado, o calor é dobrado;os bueiros estão entupidos de lixo, o que justifica a suposta limpeza das ruas; as árvores estão caindo por causa das ventanias; as ruas alagadas resultam em t
Na verdade, nunca pensei que uma barata pudesse morrer ao invés de ser morta. Tenho um certo e escandaloso pavor de insetos. Não de todos os insetos, só de alguns, melhor, de quase todos. No entanto, mesmo tendo esse desespero por animais pequenos, ontem, após refletir, comecei a sentir algo bom por eles. Estava deitada na rede, quando uma borboleta cinza pousou na parede. Ela tinha várias paredes e vários lugares para pousar, mas decidiu ficar na minha frente. Era como se não quisesse morrer sozinha. Ela grudou no alto da parede e lá ficou. Se fosse uma borboleta comum, teria ido me esconder em algum lugar onde não fosse possível entrar animais voadores. Mas não fiz isso e continuei deitada na rede, olhando aflita para aquele bicho de asas. Aproveitando que o assunto é borboleta, vou me explicar. Quem já presenciou uma borboleta se aproximando de mim, sabe do meu poder de fuga. Quantas vezes já saí correndo por causa que uma borboleta metida ousou ficar no mesmo ambiente que eu. Minha
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Você já parou para pensar que insetos, também, morrem de morte natural? Pense, primeiro. Vou pensar e depois falo alguma coisa.