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Mostrando postagens de fevereiro, 2009

perguntas de crianças.

O homem barbudo entrou na sala. Tinha um um andar caído para a direita e um olhar apertado que parecia querer ver o que aquelas vinte crianças pensavam. Foi até o meio da sala e se apresentou. Seria, a partir daquele, o professor de filosofia da 5ª série. O segundo professor de filosofia daquelas crianças. O primeiro era prático demais; uma vez, tentando provar a existência do elemento fogo em todas as coisas, tocou fogo no caderno de matemática de uma menina que sentava na primeira fila - desde esse dia ela senta na segunda fila. Após a rápida apresentação falou que não seria ele que daria aquela aula. Um barulho de perguntas se espalhou pela sala, até que a porta da sala se abriu e por ela entrou três homens usando calças jeans . Um menino de cabelo assanhado perguntou quem e o que aqueles estranhos homens faziam na aula de filosofia deles. Antes de responder, eles pediram para as crianças afastarem as cadeiras e sentarem no chão fazendo um círculo. Assim, todos podiam se olhar sem p

Luiza e os vagalumes.

Luiza adorava fadas. Desde que conseguiu alcançar a prateleira e a entender as letras, preferia ler livros que tivessem, ao menos, uma fadinha perdida pelas páginas. Sua mãe sempre que encontrava alguma coisa de tivesse asas pequenas e coloridas comprava, enrrolava num papel colorido e colocava dentro da caixa de surpresas de papelão que ficava na segunda porta do guarda roupa de Luiza . Ela, quando ir dormir, deixava apenas a luz do abajur ligado, abria a segunda porta do guarda roupa, colocava as mãos dentro da caixa com os olhos fechados e tirava alguma surpresa. Tinha noites que nada tinha dentro da caixa e Luiza pensava que as fadas tinham errado o caminho e que, no outro dia, elas iriam aparecer. Mas, quando suas mãos pequenas sentiam algum embrulho, ela tirava com rapidez, rasgava o papel e tirava sua pequena coisa de fadinha. Ela sempre gostava; para ela não existia coisas feias, apenas coisas que não recebiam atenção. Pegava sua surpresa, escolhia em qual prateleira coloca

é bom lá em cima

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Olhando para o céu, vi a morte. Não era alguém caindo de um avião, nem um pássaro baleado pairando no ar na tentativa inútil de não alcançar o chão. Era uma nuvem. Uma nuvem que não era minha em um céu que não era meu. Elas não estavam ali, atrás da janela, para compor os cenários dos meus delírios ou servir de panela para afogar sonhos; estavam ali porque o lugar delas é lá. Os olhos atentos observam suas formas; a imaginação formula formas inimagináveis; as dores são aliviadas diante de tanta leveza; e, após alguns minutos, tudo se dissolve, desaparece, morre. Aquela sua nuvem sumirá e nunca, nunca mais aparecerá. E restará o lirismo escrito, a vontade de dar-lhes um pouco mais de tempo de vida. Nuvens não gostam de morar em uma casa que tenha portas; não suportam passar as noites em um quarto, trancadas, vendo a noite ir e a manhã chegar sem cerimonial. Como seria triste, sentar na areia, sentir o vento frio da madrugada se despedindo e assanhando os cabelos e ver o o nascer do sol

como bom seria.

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Seria bom acordar contigo ao meu lado, mas pensando bem eu iria, logo, me irritar com suas manias ao dormir. Então, prefiro ir dormir com a vontade de ter ao meu lado e acordar feliz por ter a cama toda para mim. Seria bom te abraçar todo dia, mas levando em consideração que tudo se caminha para a monotonia, é melhor te ter em meus braços, no máximo, cinco vezes por semana. Nos outros dois dias, prefiro ficar abraçando um travesseiro, ou um cachorro - não que você pareça um cachorro - ou me abraçar com meus braços; assim vejo como você me faz falta e aproveitarei cada abraço seu. Seria bom se você não tivesse uma namorada, para eu poder te chavecar toda vez que você passasse perto de mim; para eu poder te chamar para ir ao cinema; para eu poder te ligar de madrugada só para mandar um beijo. Se você não tivesse uma namorada, faria tudo isso sem me preocupar com uma mulher me ameaçando de morte; mas você tem e sua namorada sou eu. Seria bom te ligar dez vezes por dia, mas tendo consciênc

versão 3 e 4

A versão do gato Gato: - Eu estava conversando com minhas pulgas, quando... Detetive : - Conversando com quê? - Com minhas pulgas, ora. Você não conversa com seus botões, então. Dava eu dando trato às minhas pulgas, quando aquela histérica da minha dona começou a pular feito um bocó -de-mola no meio da sala... - Ela gesticulava o quê? - Por acaso eu falei em gestos? - Hã, é que..., nada. Prossiga. - Pulava desvairada como ela só, jogando a roupa meio bêbada... - Ela bebe? - Bebe. Bebe e fuma. - Maconha , eu suponho. - Não precisa caluniar, a casa é de família. Fuma tabaco; tipo Sherlock Holmes , aquele teu colega. - Ah, foi mal. - Chegou bêbada e com calores da menopausa... - Uma jovem com menopausa? - Ela não é tão jovem, e o senhor nunca ouviu falar em menopausa precoce? Ejaculação precoce já, né ? - Deixa pra lá. Prossiga. - Pulou como veio ao mundo, doidona , um homem entrou gritando, bateram a porta do quarto na minha cara sem a menor consideração felina , e pá pum. - Pá pum, o q

versão 2

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A versão da porta: Lá estava eu, vivendo minha monótona vida. Minha presença passou despercebida e insignificante. -Despercebida? Você, por acaso, sofre de déficit de atenção? Todo dia, no mínimo, passo por umas dez portas. -Mas você nunca foi uma porta para saber como é monótona uma vida de vai e volta. -Tá, tá, prossiga... Ninguém notou-me, cumprimentou-me; era um nada como sempre, servindo, apenas, como elo de ligação entre a salar da casa e o corredor. -Dá pra ser menos dramática? -Senhor Detetive, não é drama, é poesia. -Poesia...Nunca vi porta fazer verso. -Se não parar de me interromper, fecharei o trinco e não direi mais nada. -Olhe o respeite, Dona Porta! -Que foi? Vai colocar-me dentro de uma prisão e oferecer-me comidas nojentas por meses? -Tudo bem, me desculpe. Fale logo tudo que viu, rápido. Enquanto estava trancada, a Mulher se exibia na janela. Não consegui ver para quem ela tanto mexia nos seus cabelos. -Ela ameaçou tirar a blusa? -Como é? -Tirar a roupa, ficar assim,

versão 1

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A versão do velho de binóculo: Nada detalhado posso falar do acontecido. Estava em casa, aouvindo meu rádio... -Que rádio? -Não me lembro. -Continue. ...quando me deparei com uma atraente mulher no apartamento da frente. Era linda demais e não tinha se dado conta dos olhares que a examinava. Mas não demorou muito para perceber a minha presença. Então, começou a fazer estranhos gestos com a mão... -Que gestos? -Já ia falar. -Desculpe-me, continue. ...que, só depois de um tempo, notei... -Quanto tempo? -Sei lá! Faço o favor, senhor detetive, de me escutar? -Ah, claro! ...notei que gesticulava números. Só poderia ser um número de algum telefone. -Por que achou isso, velho assanhado? -Ora, ela estava dançando na janela para mim. -Como sabe que era para você? Ela disse seu nome? Como ela estava vestida? -Lógico que era para mim! Ela estava com um vestido curtinho. -Ela sempre faz isso? -Faz, mas é a primeira vez que dança olhando diretamente para minha janela. -Queria ter vizinhas bonitas..

conversa de janela

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Sou uma filha da mãe irresponsável que não cuida direito nem dos dois cactos que ficam na janela da cozinha. Bem, eu dou água para eles a cada três dias, pego no jarrinho, dou uma olhada se não tem bicho e...acho que só. Uma vez, até tentei conversar com eles, falar como foi meu dia, dizer que tinha alguns livros para ler, mas nem se mexeram; ficaram parados que nem cactos. Ora, eles são cactos! E não tinha vento na cozinha naquela noite. Cactos são plantas xerófilas, nem precisam de tanta água. Por isso, eles deveriam me agradecer. Enquanto a maior parte dos seus semelhantes e familiares estão no meio do sertão, vendo água uma vez por mês e pensando que é lágrima doce, no sol, absorvendo e guardando com todo cuidado qualquer gotinha de alguma coisa, esses cactos folgados da janela da cozinha estão na sombra, tem água pra tomar banho, beber, fazer chuva artificial, jogar um no outro e ainda ousam dizer que eu não cuido deles direito. No dias que eu chego tarde, cansada, com uma cara de

tetris humano

Lá vinha ônibus vazio. A medida que ele se aproximava, as peças se posicionavam estrategicamente para tentar levar vantagem logo no ínicio do jogo. O coletivo para no ponto marcado...o jogo começa! Um turbilhão de monominós adentra a caixa onde aconteceria o tão rotineira partida. Tetris coletivo humano possui regras semelhantes ao jogo eletrônico. Existem as peças de acomodação, ou seja, são aquelas que conseguem ficar sentadas, sem ocupar o corredor principal; o risco de cair dessas peças são bem menores. Quando todas as cadeiras estão ocupadas, começa a segunda parte da batalha. A porta se abre em todos os lugares combinados, e as peças de ocupação de qualquer espaço vazio entram desesperadamente. O ônibus se aproxima do fim da linha. Quando uma linha é completada, as peças desaparecem e dão aportunidades para outros jogadores participarem.