O frio silencioso delira.
Quando nem o mínimo vestígio de sono domina o meu metabolismo selvagem, prefiro não ir me deitar. Forçar o sono é como comer de barriga cheia. É impor que o corpo se aquiete e que os pensamentos encontrem uma garagem vazia onde possam se acomodar. É ressuscitar lembranças enquanto se deixa envolver pelos panos mornos da cama. É buscar um jeito confortável de ficar, como se assim o sossego fosse fazer morada. São nessas noites de insônia que construo minhas esperanças. Na imaginação, o mundo vira de cabeça pra baixo sem deixar nada cair. Bebi um copo d'água encostada na pia da cozinha. Lembrei de quando era criança e tinha muito medo de ir até a cozinha. Crianças imaginam tanto que acabam vendo dragões em sombras de árvores. Serão mesmo árvores? Prefiro não duvidar de tudo que as crianças dizem. Por terem ainda a mente aberta, livre das infinitas restrições que assolam as idades dos adultos, conseguem ver além da primeira impressão. Na pressa de hoje, as pessoas dão uma olhadinha...