Assim como a arquitetura precisa do vazio, a matemática precisa do zero, a dança precisa da pausa. Não digo do momento de descanso; daqueles minutos pra beber alguma coisa e jogar uma água no rosto. Isso também é necessário, não só para o corpo, mas para a mente e para o coração.
Dançar é esforço físico, isso todos sabem. É um incrível exercício mental, já que numa pequena combinação de oito tempos é preciso pensar em milhares de correções, no joelho esticado, no pé esticado, nas costelas fechadas, nos braços leves, nas direções da cabeça, nas terminações, na quinta posição, na ligação dos movimentos...

Dançar também é um silencioso conflito de sentimentos. Sentimentos difíceis de compartilhar, pelo fato de crescerem sem alarme dentro de nós. Um ensaio que não sai bem, vários ensaios que não ocorrem bem. Um dia ruim. O cansaço. A vontade de chorar. O choro. Os dias de preguiça. A preguiça de se alongar. A vontade de desistir; de desligar o som na tomada de uma vez, pegar as coisas e ir embora. Os dias bons. Os dias incríveis. A confortante sensação de se olhar no espelho e se sentir bem. Aquela vontade de fazer um coque bonito, colocar o colán preferido e fazer o que tiver pra fazer da melhor maneira possível. Os dias que os erros são aceitos, entendidos e corrigidos. Os dias de se alongar toda hora, toda hora, até a perna esquerda ficar 270º. As notas de uma música que se encaixam como uma melodia. Músculos forte e coração forte. Pelo menos, nessa área da minha vida. 

Bem, como disse, a dança precisa dos momentos de pausa. Algo sutil, às vezes imperceptível. Silêncio também é música e como música precisa ser considerado. Na empolgação das sequências, muitas vezes apenas escutamos a música como um objeto de ligação de uma coreografia. E fazendo isso, perdermos acentos, detalhes, perdermos a pausas na agonia de terminar logo. Calma. A música para um bailarino precisa ser vista também como uma partitura. 
Da mesma forma que sabe-se todos os passos, conhece-se o estilo, estuda-se personagens e figurinos, precisa-se explorar a música. Colocar na mesa, desmontar pedaço por pedaço, tirar parafuso, descolar umas partes, até saber o que tem e como é dentro, como uma criança curiosa desmontando sua boneca até descobrir como é possível plástico falar.

Deixando as metáforas de lado, escutar a música infinitas vezes, até saber aqueles detalhes que parecem ficar escondidos.
Ficar que nem quando canto Sandy&Junior e me pego sabendo todos os gritinhos da Sandy e a segunda voz do Junior sem errar. Colocar um fone no ouvido, deitar no sofá e ficar só ouvindo, sem mexer nem um dedo. Não precisa. Quando a música entra, alguma coisa tem que sair. Se sair errado, pelo menos está no tempo certo.

-isabelle cristhinne

Comentários

Solange Maia disse…
vim deixar um beijo de ano novo... e o desejo de dias lindos e de delicadezas...
Camille Ramos disse…
Amei o novo layout.

Lindo, lindo *.*

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como bom seria.

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