Diário de Manoela, 25 de março de 1992. . É fácil perceber quando um homem está observando uma mulher. E mais fácil ainda quando você é a mulher. Servi-me sem pressa, como o de costume, mas, principalmente, para ver aonde aquilo ia parar. Quando um par de olhos - um bonito par de olhos, vale ressaltar - está caído sobre você, é como se um peso dificultasse qualquer movimento para fora do campo de visão. Ontem, paguei a conta e fui andando até a mesa no final do restaurante. Até lá, percorri um caminho de probabilidade . A chance de nossos olhares interesseiros se encontrem era máxima. Ele tentou me sugar feita uma onda quando a maré está cheia. Sabe como é? Na ida, te dá uma chance de escapar correndo pela areia, na volta te puxa sem pena e te leva pra qualquer longe da sua chance de escapar. Ele tentou me prender, mas não conseguiu. Sentei de costas para as entradas e não vi mais nada. Melhor, iludidamente pensei que nunca mais o encontraria. Hoje, cheguei mais tarde do que ontem. L...
Um livro, pequeno, de capa velha, perguntou-me hoje: -O que é amor? -Como? -É o amor, menina! Diz logo, daqui a pouco serei alugado. -É...não sei. -Não sabe? Lógico que sabe, está viva até hoje. -É...o amor é...é um nada. -Um nada? -Não se sabe como ele aparece, nem como vai embora. -Mas achas que é apenas um nada? -Também. Seu Livro, ele pode ser o que eu quiser que ele seja. Hoje, ele é um nada. -Só um nada? -Insistente o senhor, não é? Admito, então. É um nada...um nada essencial. Na verdade, o livro não me perguntou nada. Eu que, sem intenção alguma, o vi encostado em uma das inúmeras prateleiras da biblioteca. E, com letras pequenas, estava escrito na capa: o que é o amor?. Esqueci tão rapidamente da pergunta da mesma forma como o encontrei. Só, agora conversando o torto, lembrei-me do inesperado. Mama, minha amiga, parabéns, feliz aniversário, muitos anos de vida, muitas notas boas, muitos filhos, muito sucesso, muita paz, muito amor, muita felicidade...esqueci algo? Resumindo: t...
Não tenho palavras pra descrever a sensação de deitar no chão do quarto, suja mesmo, com a roupa suada, com a pele grudando no chão gelado e até ousar fechar os olhos numa cochilada, indo na contramão de dormir sem tomar banho. É excitante ver meu corpo descansar, jogado na cama ou no chão, depois de um dia lotado, daqueles que invento de ter faz um tempo. É revigorante se jogar embaixo de um jato de água gelada e sentir um choque térmico percorrer meu corpo até a água bater no chão. Poucas coisas na vida são tão prazerosas. Porém, é desafiador esperar o corpo esfriar sozinho, a medida que minha respiração acalma, ou senti-lo queimar de vez, tendo gotas de suor deslizando por entre as camadas de roupas. Teve um dia que cheguei e tomei um banho logo, coisa que raramente faço. Me despi como quem tira uma roupa em chamas e pulei pra dentro do box como quem tá derretendo e senti a água escorrer como quem já conhece meu corpo quente e dolorido da rotina. Terminado esse batizado rotineiro,...
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