outro tipo de matemática.

-O que você tem?
Ele não sabia. Ele nunca aprendeu a fazer cálculos de palavras. Aquela pergunta poderia ter sido feita por qualquer voz, por qualquer pessoa que o encontrasse na rua gritando: eu tenho! eu tenho!
-O que você tem, então?
Não era qualquer pessoa. Ela se aproximou e ele foi capaz de ver suas rugas costuradas naquela pele que ele tanto já tinha visto sem maquiagem, quando acordava, olhava para o lado e a vi na sua forma mais pura. O que ele tinha? Ele tinha tudo. Seu coração estava que nem um copo a beira de transbordar. Uma batida na mesa, uma leve batida na mesa, faria a mesa tremer, o copo tremer...seu corpo todo tremia, tentando equilibrar a lágrima tímida que já tendia a escorregar pelo nariz. Seus pensamentos não cabiam mais na caixa de guardar pensamentos que ganhou na hora de nascer. Estava tudo lotado, no extremo limite. Tudo apertado. Tudo guardado demais.
-O que você tem? Me diz.
Sua voz estava presa. Sua vontade era de se partir ao meio e mostrá-la o turbilhão de coisas que enchia o porão da sua vida. Não. Partir-se ao meio seria um desastre. Ele nunca gostou de ver sangue. Ela sairia correndo, o deixando partido, morto, sozinho, frio.
Enquanto ele lutava com seus motivos, ela chegou mais perto até que um fosse capaz de ouvir a respiração quente no ouvido do outro. Agora, não apenas uma lágrimas escorregava do seu nariz, seu rosto era como água correndo.
Quando sentiu seus braços envoltos em sua pele, ele mais nada poderia fazer. Sentiu de súbito uma vontade de gritar. Era isso o que ele tinha. Vontade de gritar até quebrar a última partícula de silêncio que havia entre eles. Ele não gritou. O ouvido dela estava próximo e ela nunca gostara do tom que as vozes alcançam quando estão gritando.
Então, ela sussurou em seu ouvido, tão baixo como o barulho de lábios tímidos se tocando:
-O amor pesa, sabia? Divide teu amor comigo. Estou aqui com você. Mais uma vez.

Comentários

Ana C. disse…
Tem continuação? *olho brilhando*
^^
Anônimo disse…
sublime.
Rebeca Rocha disse…
O amor pesa, e como pesa.
bjs menina.

http://rebecarocha14.blogspot.com/
Ceres disse…
pesa também o medo de não ser compreendido...
beijo
Anônimo disse…
O amor pesa, a cabeça pesa, as lágrimas pesam... tantas coisas juntas fazem com que ele nao saia do lugar e fique preso na sua vida vazia tao cheia.
Muito perfeito esse texto *-*

amei as frases que utilizastes , apropriadíssimas com o desenrolar do texto! LINDO

beijos ;*
Moska de Bar disse…
Segundo Dan Brown é possível pesar a alma humana numa espécie de microbalaça. E acredito que ela seja infinitamente mais leve que o "amor", portanto muitos tem dificuldade ou nem mesmo conseguem carrega-lo.
Beijo

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