O frio silencioso delira.
Quando nem o mínimo vestígio de sono domina o meu metabolismo selvagem, prefiro não ir me deitar. Forçar o sono é como comer de barriga cheia. É impor que o corpo se aquiete e que os pensamentos encontrem uma garagem vazia onde possam se acomodar. É ressuscitar lembranças enquanto se deixa envolver pelos panos mornos da cama. É buscar um jeito confortável de ficar, como se assim o sossego fosse fazer morada. São nessas noites de insônia que construo minhas esperanças. Na imaginação, o mundo vira de cabeça pra baixo sem deixar nada cair.
Bebi um copo d'água encostada na pia da cozinha. Lembrei de quando era criança e tinha muito medo de ir até a cozinha. Crianças imaginam tanto que acabam vendo dragões em sombras de árvores. Serão mesmo árvores? Prefiro não duvidar de tudo que as crianças dizem. Por terem ainda a mente aberta, livre das infinitas restrições que assolam as idades dos adultos, conseguem ver além da primeira impressão. Na pressa de hoje, as pessoas dão uma olhadinha nas coisas e se contentam com o óbvio e a aparência ilusória da névoa que circunda tudo.
Senti a água gelada descer pela garganta, congelando os meus devaneios. Um cheiro de chuva invadiu como um desejo a sala. Um cheiro que enlaça como fita de presente, que esquenta como brasa de fogueira e envivece até as almas ditas mais morgadas.
Na varanda, gotas de chuva jogavam um xadrez desregrado, usando minha pele como tabuleiro. Nada de rei e nem jeito de rainha. Nas torres do meu castelo, a festa já havia acabado há carnavais. Nada de gritos e olhares explícitos. No meio do céu, eu conseguia escutar um tilintar agudo vindo de algum lugar. Não dava para saber. Muito alto para ser televisão, muito agudo para ser de vozes e muito intenso para ser explicável. Lembrei dos peões bêbados que brindam a luxúria no silêncio da noite, como se assim os bispos nada fossem escutar. Mas o cavalgar do cavalos na rua, na fuga confessam de onde tudo começou.
O frio silencioso delira.
Ah! O sono chegou, a chuva parou e eu me acalmei.
O frio silencioso delira.
Ah! O sono chegou, a chuva parou e eu me acalmei.
Comentários
medo de ir até a cozinha a noite pra pegar água? tenho isso até hoje! =\
beijos! (6
Muito bom.
Beijos
Lendo esse trecho, (não sei porque, pode não ter nada a ver com o que você escreveu), mas me lembrei de Marina Colasanti "Eu sei, mas não devia".
E pode deixar, seguirei o teu conselho de devorar barreiras!rs
Parabéns pela tua arte!
Abraço
mas adoro a imaginação inocente e delirante das crianças.....
Tem promoção no meu bloguinho! vai la!!
BJS
adultos não sao tao diferentes, as vezes acreditam tanto e querem tanto uma coisa que a mente e o coração começa a ver só o que quer!
;)
beijos
=*
Adorei o texto.
Milhões de beijos
Exceto quando tenho que levantar 6h no horário de verão...
Vi seu comentário no Estúdio xD... O blog foi feito para auxiliar os alunos de minha escola que devem, no 1º ano do EM, fazer um vídeo sobre Trabalho e Consumo...
Fico feliz que ele também consiga te ajudar xD. Qualquer dúvida, estou por aqui ;).
Adooooooro seu blog!
"Talvez bater a porta na cara não seja sempre a única opção. Talvez..."
www.mamae-dizia.blogspot.com