século passado

Ainda é possível se encantar com o centro da minha cidade. A história ainda está nela e não só nos livros. Nas suas ruas, nas suas luas e nas suas esquinas.
Ontem, depois de muito perguntar, peguei um ônibus que ia parar quase em frente ao meu destino. Quando entrei, estava tão lotado, que, por minutos, tive a impressão de levitar. Bem, isso durou, realmente, apenas alguns míseros segundos, mas nada melhor que uma metáfora para intrigar os leitores de uma composição. Voltemos ao ônibus. Com o passar dos quarteirões, a solução humana foi se evaporando, até restar apenas aqueles que encontraram um lugar para sentar. O corredor ficou livre, o vento circulou e a gotas de suor acumuladas no corpo sumiram como boas almas.
O ônibus dobrou a direita e foi-se logo percorrendo a extensão da rua da entrada lateral do Theatro. As antigas grades de ferro fundido estavam deslocadas entre tantas portas de comércios enferrujadas. Muitos que estavam lá dentro nem repararam no prédio, com arquitetura eclética, que, há quase cem anos, tenta preservar a vida nos palcos daqui. Foi-se o Theatro. Lojas, lojas, lanchonetes, banca de jornal, vendedor ambulante, construções estranhas e sujas, até que o ônibus dobrou na Rua Castro e Silva, indo para o leste. Sou intimamente apaixonada pelo fim do leste dessa rua. Uma vez, nas férias, passei por ele de manhã cedo e vi o sol se espreguiçar atrás das torres da catedral. Mas, ontem, era meio dia e vi as torres cinzas e manchadas pelo tempo e pela erosão perfurarem o céu azul. Vi também a imponência da igreja diante de tanto concreto empilhado e sem beleza estética que, ultimamente, dominam as rápidas construções ou as reformas de fim de mês. Foi-se a catedral. O ônibus continua e passa por uma das entradas do Paço Municipal, que, segundo uma placa na calçada, está passando por reformas. Um prédio do século XIX, amarelo, com portas azuis e sem nenhuma pixação. Isso é um verdadeiro milagre. Um belezura ao lado de um jardim descuidado e com árvores verdes, mas tristes. O Seminário da Prainha e suas cruzes. Uma no pátio, que vi ao passar pelos portões abertos e uma na porta da igreja de quarenta e seis janelas viradas para uma das principais avenidas comerciais daqui. Não sei se são realmente quarenta e seis. O ônibus passa ligeiro como se fosse perder o trem.
Meu destino estava próximo.
Fui até a porta, esperei o motorista parar e desci.
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Ano passado, ao passar por essa rua, escrevi algumas coisas. Se quiser ver:
-Rua Castro e Silva - Outubro de 2008
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beijo torto!

Comentários

Malu Azzoni disse…
tu escreves tão bonito!
Érica Ferro disse…
Viajei contigo.
Muito obrigada pelo agradável passeio.
:**
Obrigada pelo passeio matinal de hoje.
Beijos
Seu texto tá lindo !=D
Bjoka
add meu blog ai de novo que deu pau e tive que fazer outro =D

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