lares de minha vida
Já tive várias casas, mas só uma rua.
Dos seis lugares que mais vivi, (incluindo os de agora), lembro-me de cinco. Só não me recordo, afinal era bebê, do apartamento que morei quando era muito bebê. O que eu sei desse primeiro lar são as coisas que meus pais contam. Sei da sorte e do velho adivinha que preveu certo o número do apartamento. Sei também do telefone dado de presente, na época, objeto que era parcelado em três vidas, com entradas e com juros. Sei dos banhos de sol lá embaixo, das vizinhas que dividiam almoço. Sei como foi o começo da vida de casados dos meus pais. Não sei como se chega lá, mas sei o bairro. Não sei como era o apartamento, mas montei uma imagem na cabeça que vai durar enquanto eu durar. Não sei de muita coisa. Mas as poucas fotos, a boa memória de minha mãe e as prosas de pai, compromissadas apenas com as lembranças da vida, fazem com que meu primeiro lar seja vivo em mim.
Quando me mudei pela primeira vez, tinha, de acordo com as contas feitas agora, aproximadamente, dez meses de vida e de choro. Meu irmão ainda estava na barriga, aquecido e despreocupado com as caixas. A casa era grande e tinha um quintal enorme. Depois da reforma, que engoliu a árvore que derrubava mangas no chão (uma mangueira) a casa ficou enorme e o quintal grande. E o que antes era quintal, virou cozinha. Uma infinita cozinha! Dava pra correr, dançar sem derrubar as panelas, nem quebrar os pratos. Um grande sonho. Na frente da casa, tinha uma palmeira imensa que sombreava a casa. Com ela, tudo era mais ventilado. Foi nessa casa que minha coleção de adesivos alcançou o seu auge. A coleção de fotos da Sandy, da Angélica e de cartão telefônico, também. Foi nessa casa que o aniversário mais inesquecível da minha vida aconteceu. Até hoje, quando assisto a filmagem, sinto vontade de chorar. Eu fazia dois anos e meu irmão um. Foi nessa casa que levei minha primeira grande queda de bicicleta sem rodinhas, logo após, eu aprendi a pedalar de verdade e ganhei as ruas. No meu caso, só a rua 27, no final de semana, no fim da tarde, com meu pai sentado na calçada sozinho ou com o Black do lado. Ah, o Black. Foi nessa casa que meu primeiro cachorro viveu, cresceu, comeu pipoca e biscoito de chocolate, brincou de esconde-esconde comigo e me viu pela última vez. Ele chegou tão pequeno, dentro de uma caixa colorida. Lembro quando o nome foi escolhido, Black e assim será sempre. Foi nessa casa que perdi um pouco do meu antigo medo do escuro, já que depois da reforma, ganhei um quarto só para mim. Meu irmão se lançava no quarto do meus pais, que apesar de ser apenas alguns azulejos mais longe, parecia um lugar infinitamente distante. Foi nessa casa que meu irmão e eu ficamos mais de castigos de joelhos, abraçados, perto da porta da sala. Foi nessa casa que eu cresci e nunca recebi visita de nenhuma amiga, afinal era longe do colégio. Foi nessa casa que meu pai mais saiu comigo de madrugada para me levar ao hospital. Afinal, foram mais de dez anos morando lá e eu sempre fui uma peste teimosa para tomar remédio. Me lembrei de uma cena agora: meu irmão sentado na ponta da cama, quase que dormindo, com os pés em cima dos joelhos do meu pai ou da minha mãe, tendo seus cadarços amarrados. Que preguiça, Thiago! Foi nessa casa que tive minha única babá. Bem, era ela mais que uma babá. Ela era maluca e eu tenho grande vontade de vê-la novamente. A decisão foi tomada e meu pai informa: vamos nos mudar para um apartamento. Foi tudo muito rápido. Eu queria me mudar, não tinha amigos de brincar ali. Só conhecia uns meninos que moravam lá e que vez por outra a gente brincava de correr na rua. Para ser mais sincera, minha única amiga era uma menina pequenininha que morava na casa da frente. Adorava ir brincar de boneca e de correr dentro de uma piscina de plástico vazia. Caixas, muitas caixas de papelão! E a mudança ia sendo feita. Mudar roupas e móveis de lugar é muito fácil. E o Black? Se apertasse, ele caberia no apartamento novo. Mas não. Outra decisão foi tomada. O Black não iria com a gente. E assim ele foi entregue para alguém. E nunca mais nos virmos. A mudança foi feita. Bairro novo, casa nova e dois pré-pré-adolescentes, um com dez e outra com onze anos (eu sou a de onze!) num prédio enorme, cheio de pessoas, andares, festas e histórias.
Depois eu conto isso.
Até a terceira casa!
beijo torto!
Comentários
Beijos
Já cai da escada também, já fiz muita arte aqui. Pontos no corpo, ixi, só agora, depois de velho [foi no ano passado, com 21 anos, 13 pontos no pé por causa de um corte com vidro].
Obrigado por visitar e gostar das fotos do flcikr... Fotografar o cotidiano, pessoas, é muito interessante. Sempre que puder, passa por lá.
BEIJO
Adorei o Texto
Bjo!!
por isso te dei um selinho pro seu blog (:
Espero que goste,pega lá!
bjooo!
www.ameiafurada.blogspot.com
Eu acho tão legal relembrar as coisas e os velhor tempos, ás vezes eu tenho vontade de voltar no tempo só pra reviver. (Ah! Sou fã também do seus templates, esse novo ficou show, espero um dia aprender a fazer um assim ;D) Beijo Torto ²
beijo, torto! ^^ ;*
tem ngm me seguindo, isso eh triste
tem muita matéria interessante
parabéns bom estou aseguir seu blog
se possivel me adicione ai aos seguidores se - cuide