a primeira sapatilha



A primeira sapatilha de ponta demora.
O sonho de ficar nas pontinhas dos dedos e chegar mais perto do céu é grande e deixa os corações de bailarinas ansiosos. A primeira sapatilha de ponta é limpa, brilhosa e desconfortável. Na primeira aula, os pés quase quase não encostam no chão.
O tempo vai passar, os primeiros calos aparecer e a dor chegar . E se preparem, pequenas, a dor nunca mais vai embora. Mas não fiquem tão assustadas, essa não é a pior do mundo. Até os movimentos saírem naturais, como se o corpo feito só para isso, é necessário repeti-los muitas vezes e, por mais que elogios sejam feitos, sempre será preciso mais aulas e mais ensaios.
Uma vez, dançei com os dois pés machucados. Coloquei pomada para adormecer a dor, fiz um curativo, coloquei as sapatilhas e fui para o palco. A dor era grande, mas tinha que sorrir. A platéia não precisava saber que meus pés sangravam a cada passo que eu fazia. Minha vontade era tirar as sapatilhas e chorar, mas nunca sair antes que a cortina se fechasse.
A partir de hoje , vocês aprenderão mais do que colocar uma sapatilha no pé. Aprenderão que existem vários tipos de sapatilhas. Aprenderão a costurar as fitas nos lugares certos; a apertar o elástico de um jeito que o pé não saia; a quebrar e amaciar sapatilha. Aprenderão nomes de remédios para dor; a fazer curativos e a cortar as unhas dos pés - pedicure é um perigo para bailarinas.
Na rotina, não há espaço para a saudade. Não sentimos falta da sala, porque quase sempre estamos nela . Não sentimos falta dos professores, porque eles estão sempre lá ensinando, corrigindo e reclamando do coque que cai na hora da aula e dos exercícios feitos com preguiça. E, principalmente, estão sempre nos incentivando a continuar. Dançar é bonito, mas não é fácil. Não sentimos saudades do palco de um teatro, porque temos um festival marcado. Não sentimos falta da ponta, porque está lá, sempre criando novos calos.
A saudade chegará quando a experiência acertar nossos passos, quando lembrarmos dos dias e noite de ensaios, quando encontrarmos nossos amigos pelo mundo, cada um com novos sonhos. Então saberemos o quanto a dança nos ensinou.

Comentários

Aline disse…
eu lembro da minha primeira sapatilha...mas logo depois que subi na ponta eu sai do ballet...heheheeh mas sinto saudades das aulas...=p

beijinhos

ótimo diaaaa
Nathália disse…
Sei bem o que é esperar anciosamente pela primeira sapatilha de ponta e querer sair correndo na primeira vez que usá-la.
É preciso ser persistente, dançar não é fácil. Mas a sensação do palco justifica tudo!
Belíssimo texto, arrasou
Bruno Ribeiro disse…
cadê tu, bel? oO'
Unknown disse…
adorei o texto
de primeira
bjus
Daah O. disse…
Até hoje sonho com a sapatilha de ponta, mas como demorou muito e eu nao soube esperar, desisti antes da hora.
H.Riedel disse…
"Uma vez, dançei com os dois pés machucados. Coloquei pomada para adormecer a dor, fiz um curativo, coloquei as sapatilhas e fui para o palco. A dor era grande, mas tinha que sorrir. A platéia não precisava saber que meus pés sangravam a cada passo que eu fazia. Minha vontade era tirar as sapatilhas e chorar, mas nunca sair antes que a cortina se fechasse."

Eu acho que eu estava lá.
Laineh_ disse…
Lindo... AMEI O BLOG!!! Tah de parabéns! Sigo-te! =)
Sara Morais disse…
Eu vou começar a dançar na sapatilha de ponta esse ano. Sei lá, esse texto quase me fez chorar...
Giovanna J. disse…
nossa que perfeito,este ano estou começando a usar a minha ponta.Estava muito ansiosa,chorei no dia do teste com medo de nao ter passado,mas uns 4 dias depois,saiu o resultado e fiquei MUITO feliz pelo fato de ter passado,no outro dia já fui direto comprar a minha ponta.Agora nao vou descansar até chegar no topo e ser uma grande bailarina.Porque nao a coisa melhor no mundo do que dançar na frente de uma plateia <3
Anônimo disse…
Nada mais lindo que a pureza das palavras de um bailaria :')

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