agonia

Teve uma noite que fez tanto calor, mas tanto, que não teve ventilador que desse jeito, nem ar-condicionado que aquietasse minha agonia. E quem me conhece sabe que quando tiro pra ter agonia de uma coisa, não consigo ficar parada vendo aquilo me consumir, sem ao menos reclamar uma vez sequer, mesmo que não dê jeito. Era madrugada, sei lá que horas, estava sozinha e não tinha ninguém ao lado pra dizer agoniadamente: vou morrer de calor. Morrer, com orgulho de quem esquece o que a mãe diz pra nunca dizer que vai morrer de algo, de fome, de sede, de preguiça. Mas de calor é justificável, acredito. Levantei, tirei o pijama como se fosse o motivo e me joguei na água gelada. Literalmente, me joguei, sem nem antes fazer uma horinha, colocar primeiro a mão, depois o braço, depois um ombro, num ritual sem sucesso no qual a água não vai ficar menos gelada, mas mesmo assim, faço toda vez. Naquela noite, eu me joguei com cabelo e tudo. Fechei os olhos e mentalizei uma piscina vertical. E...