gente com gente

Tenho uma mania e tenho consciência disso e não deixo de ter, de cultivar pessoas. Elas surgem e de alguma forma se encaixam nas minhas rotinas desordenadas, ou se não se encaixam, dou um jeito de encaixá-las. É isso, tenho mania de dar um jeito nas coisas. E esse jeito, muitas vezes, é dado de qualquer jeito, precipitado, causador de impressões erradas que seriam evitadas se eu tivesse um pouco mais de paciência e deixasse as coisas se ajeitarem sozinhas. Mas não tenho tanta paciência assim pra esperar o prazer independente das coisas. Fico dando uma ajudinha e essa ajudinha se perde no papel de ajuda e vira mandante. Não que eu saia mandando no rumo das relações e deixando de muito palavra, não saio mandando nas pessoas. Sou indecisa pra muita coisa, pra não dizer quase tudo, mas em relação à relações , faço uma guerra com minhas interrogações, enfio cada uma num canto sem luz e tento, tento tão bem, que me faço acreditar que sei o que quero. Na prática constante disso, de fato passo a saber querer e a não querer sem grandes dúvidas. E relações são laços, que se cruzam por aí sem motivos, ou já fazem tantos nós motivados que viram cardaços que enlaçam nossas vidas. E como laços, se desfazem ao serem puxados, esticados e apertados. Laços que decoram, enfeitam, tornam bonito tanta coisa, que continuam sendo bonitas quando se desfazem, mas que enfim passam. Uma vida pra ser enlaçada, a mesma vida pra enlaçar por aí, até o dia da desfeita. E por mais frouxo que seja, coração fica apertado, nem que seja por uns dias, de um jeito discreto, que nem aquela amiga que reconhece sua cara melhor que qualquer ressonância desconfia que amor, por menor que seja, quando vai embora, doí. É desumano demais não guardar nadinha que seja de quem passa pela gente. O problema dos laços são os nós. E quanto mais cego, segundo uma história sem noção que diz que  o bendito amor não bastando suas complicações ainda é cego, mais desornado a coisa fica. Quanto mais amor, mais desorientado fica, mais desorientado deixa. E sendo assim, eu não tenho a capacidade suficiente e nem quero me tornar alguém melhor criando tal habilidade, de aguentar indecisão em relação a isso. Se a coisa não fica clara por si só, eu preciso, me dá um desespero não saber o que fazer. E não saber o que fazer, não significa entregar minha vida, minhas malas e meus problemas na porta de alguém assim de cara.  Não saber o que fazer é não saber se aquele abraço te conforta de verdade, se o prazer não é só um escape nervoso de satisfação. Nossa vida pesa e não é educado jogar tanto peso assim de cara, e muito menos quando se conhece. Então, relaxa e deixa isso de lado. Não importa agora e quando for reparar de fato, alguém conseguiu se equilibrar mesmo com um peso a mais e fica tudo certo. Gente precisa de  gente. Não há por que negar descarada constatação. Não tiro aqui o valor da família, dos amigos e do que mais tenha valor pra cada um no sentido de dar sentido à uma vida. Mas eu estou falando é de gente com gente, de afinidade no outro, de ter alguém deitado ao lado, de alguém que entenda, ou se não entenda que finja que entenda, que escute, que conforte sem que seja um esforço. Amigos fazem tudo isso e por serem amigos, os chamados folgados íntimos autorizados, fazem muito mais e ainda escutam a gente reclamando que sente falta de alguém e mesmo assim continuam por perto. É isso. Não me importo que as relações sejam laços sem nós, mas que ao menos sejam laços apertados, seguros ao menos no papel de existir. Se se desfazer, já estava previsto. Sendo claro, se acabar, acabou, passa daqui uns dias. Mas deixa uma marca, um presente, um cheiro de perfume, algumas manias e a lembrança de que um dia fez bem. Sem complicação. 

Comentários

Anônimo disse…
Concordo com tudo que vc escreveu Bel! Beijos! Amei o texto!

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