180

O velocímetro foca a visão. 180 km/h leva o resto do corpo.
A 180, o que está fora das janelas, perde a forma estática.
A 180, sente-se o mesmo frio na barriga que sente-se quando o avião está para decolar.
A 180, perde-se a noção de perto.
Tudo passa. Tudo já passou.
Na avidez da pressa, a ignorância do que foi deixado pra trás.
É questão de escolha.
O retrovisor é uma máquina fotográfica sem filme.
Registra tudo a 180, em tamanho reduzido e congelando por segundos a última imagem.
Mas sem filme.
As coisas não tem passado a 180. 
Foram vultos.
A 180, árvores são linhas paralelas, luzes são linhas de fogo e a vida...
A vida é o que está para vir
Quando se está com muita pressa, deixa-se coisas para trás.
E nunca se sabe que coisas foram essas.

Comentários

Juliana Lira disse…
Então que tal reduzirmos um pouco a velocidade? De um jeito ou de outro chegamos ao destino, mas a vida também anda rapido demais, e talvez numa dessas paradas o arrependimento nos faça fazer curva pra buscar aquilo que deixamos pra trás.
Estará ainda lá? Melhor reduzir, melhor reduzir...

Milhões de beijos
Rebeca Amaral disse…
Por isso dizem que a pressa é maior inimiga da perfeição. E da felicidade.
Um beijo.
Marcelo Mayer disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Érica Ferro disse…
E às vezes essas coisas eram as que sempre estivemos a procura, e deixamos passar a 180.

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