sem aula de balé

Estou sem fazer aula de balé por causa de uma inflamação de um músculo da perna esquerda. Isso não me impede de ir assistir às aulas. Não é fácil ficar sentada, sem sapatilhas nos pés, vendo o professor mostrar o exercício e não ter como fazer. Já teimei muito com meu corpo. Não media as consequências de dançar com um ligamento do pé rompido. Os fantasmas que dançaram balé em outras vidas devem ter me protegido. Só encontro essa explicação. Abusei da sorte, da dor, mas o amor por algo faz com que as pessoas façam coisas inimagináveis.
Muitas pessoas fazem aula de balé, mas muitas, mais ainda, não pensam quando estão a fazer aula. Decoram sequências de exercícios sem escutar a música. Bailarinos precisam de musicalidade, diz a maitre de ballet clássico Toshie Kobayashi. A música fala o tempo no qual os movimentos devem ser executados, basta treinar o ouvido. Na ânsia de decorar as variações, de encaixar a barriga, de esticar os pés e os joelhos, os bailarinos esquecem de dançar; esquecem dos detalhes. Acompanhar as mãos com o olhar e tirar a tensão dos ombros são detalhes muito importantes e quando feitos na tempo certo da música, dão vida à dança.
Ou se nasce com musicalidade na alma - existe pessoas assim e quando se dedicam à dança mostram um bonito trabalho -, ou se aprender a ter. Para isso é preciso ter calma, paciência e saber observar. Observar uma simples subida de braço como algo contínuo e que precisa ser terminado com a emoção ensaiada é saber observar.
E é assistindo às aulas que se aprende melhor. Concentrar o olhar na observação dos movimentos e não na execução é essencial. Ver algo e se imaginar fazendo é um exercício para o pensamento. Dança-se com o pensamento, também. Faz-se aula na imaginação. Abstrato demais? Há estudos que comprovam que assim, passando os passos na cabeça, eles se acostumam ao corpo mais rápido e com melhor definição.
Irei fazer isso enquanto estiver sob restrições médicas. Pela primeira vez, eu não sinto vontade de chorar por estar sem fazer aula e nem vontade de ignorar a inflamação, dizendo para mim: com o tempo passa. Passa, mas volta pior.
A dança ensina.

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