é bom lá em cima


Olhando para o céu, vi a morte. Não era alguém caindo de um avião, nem um pássaro baleado pairando no ar na tentativa inútil de não alcançar o chão. Era uma nuvem. Uma nuvem que não era minha em um céu que não era meu. Elas não estavam ali, atrás da janela, para compor os cenários dos meus delírios ou servir de panela para afogar sonhos; estavam ali porque o lugar delas é lá. Os olhos atentos observam suas formas; a imaginação formula formas inimagináveis; as dores são aliviadas diante de tanta leveza; e, após alguns minutos, tudo se dissolve, desaparece, morre. Aquela sua nuvem sumirá e nunca, nunca mais aparecerá. E restará o lirismo escrito, a vontade de dar-lhes um pouco mais de tempo de vida. Nuvens não gostam de morar em uma casa que tenha portas; não suportam passar as noites em um quarto, trancadas, vendo a noite ir e a manhã chegar sem cerimonial. Como seria triste, sentar na areia, sentir o vento frio da madrugada se despedindo e assanhando os cabelos e ver o o nascer do sol sem nenhuma nuvem para refletir os inúmeros amarelos solares. O sol teria que acabar com a sua timidez matutina; a chuva teria que se tornar independente e fazer um acordo com o céu ou com os bicos do passarinhos. E outra, não tem abrigo para tanta nuvem. Imagina todas as nuvens do céu tendo síndrome de medo de altura? Seria o caos aéreo, terráqueo, marítimo, literalmente! Asilos para as nuvens maiores e mais velhinhas. Orfanatos para as nuvens que se perderem dos pais. Hotel para as nuvens turistas. Motel para as nuvens safadas. Albergue para as nuvens estudantes. Casa dos outros para as nuvens metidas. Enfermarias para as nuvens nervosas que correm risco de sofrer paradas cardíacas. Não dá para guardar nuvem no guarda roupa, uma vez que se elas inventarem de chorar com saudade do lua, do sol e das estrelas vão molhar tudo que é de roupa e ficará um cheiro de mofo tragicamente incrível e não terá giz, carvão, sal grosso, pó anti-mofo, macumba, secador que dê jeito! Mofo de choro de nuvem é um desastre quando não cai do céu. Pouco me importo se as nuvens não são minhas, mas eu gosto delas. Apenas gosto muito delas. Não sou possessiva e não estou muito disposta a levar nuvem depressiva, por não conseguir se adaptar ao novo ambiente, para analista! Nuvem nasce, se cria, morre e leva consigo os infinitos problemas, loucuras, rinocerontes, espadas, rostos, daqueles que se pegaram destraídos olhando para cima. Nuvens no céu, meus sonhos na nuvens e a graça da vida nos sonhos. Melhor assim.
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Que saudade, meu Torto.
beijo!

Comentários

H.Riedel disse…
O livro sai quando, bel?
Vilma disse…
Preciso dizer que adorei?
Não neh... amo essa forma simples de dar vida´para coisas simples... amei a parte q vc diz que as nuvens não são suas mas voce as ama...
cada dia vc se supera

bjxxx
Aline disse…
vc sempre escreve muuuito bem sobre as nuvens..gosto do jeitinho como escreve...=)

bjokas
Disseste tudo. A graça da vida nos sonhos. E que a realidade senha um espelho da graça da vida. E que a graça da vida nos torne cada vez mais risonhos e ilários pois sem alegria a graça da vida não tem graça. Que no fim tudo se resolva da melhor forma possível.
Xeru na alma.
Anônimo disse…
Oh, num conta pra ngm nao, mas eu fiquei com moh carona d ebsta feliz lendo seu texto. Nossa, mto bom guria.

Gostei das nuvens safadas e do medo d altura. kKk... parabens!
fabiana disse…
Isa, esse foi um dos seus textos que eu mais gostei. Está tão leve, equilibrado e gostoso de ler, criativo na dose certa... faz a gente pensar nas coisas de um outro jeito (que nem aquele post das roupas do armário). Parabéns!

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