2. Os vizinhos

Quando eu era pequeno e tinha medo de dormir sozinho, o velho do primeiro andar dizia que enquanto a música estivesse tocando, nada aconteceria comigo. Acostumei-me a dormir o ouvindo tocar. Na hora de ir dormir, apareço na minha janela e grito, " Senhor Neo, boa noite!", "Incríveis sonhos para você, pequeno!". Ele não costuma me desejar uma boa noite; diz que ter sonhos incríveis é a melhor forma de tornar a noite boa. Ao acordar, eu que decidiria se a minha noite tinha sido boa. Ela não costumava ser ruim. Só quando não sonhava com nada, com nenhuma aventura e acordava parecendo que tinha dormido sem cerébro.
A velha Zalu é uma boa pessoa, mas não achava isso antes. Uma vez o gato dela foi fazer o passeio diário e quase morreu atropelado pelo caminhão do lixo. Eu, que estava sentado na calçada brincando de bila, vi e fui salvar a vida daquele gato infeliz que passa o dia miando. Não gosto de gatos, são traiçoeiros. A velha Zalu não acha; ela tem um filho, mas não mora com ela, e o marido era marinheiro e desapareceu no mar. Assim, ela deposita todo o seu amor nesse gato. Tenho pavor de gatos, já disse? Depois que eu salvei a vida do felino de bigode, ela passou a ser gentil comigo; me oferece bolo e cada doce - doce de banana, de goiabada, doce de chocolate com morango - e ainda deixa eu brincar no quintal de sua casa todo domingo de manhã. Lá tem árvores enormes que foram feitas para nós, crianças, se empendurar.
Meu vizinho de cima...eu não sei nada do meu vizinho de cima, não sei, ao menos, se eu tenho vizinho de cima. Devo ter, é cada barulho que ouço. Ele deve ser tímido, ou muito velho, ou ser um fantasma! Não, fantasmas não existem. Eu nunca vi um. Se existesse, eu já teria visto. Dizem que as crianças podem ver tudo. Eu, Eduardo, sou criança e posso ver tudo...não vi nenhum fantasma na minha vida. Só quando meu irmão estranho rasgou o lençol novo da mamãe, o vestiu e começou a fazer barulho na escada até eu aparecer, mas o lençol era pequeno e deixou as canelas do bobão aparecendo. Ele não me assustou e ainda teve que comprar um lençol novo pra mamãe com a mesada dele. Meu pai conta que há muito tempo - eu ainda era bebê - morava uma mulher que tinha três filhas. Ela se vestia com uma roupas coloridas e usava umas pedrinhas brilhosas na cabeça. As filhas era até bem educadas. Papai disse mais coisas, não me recordo agora...Queria que elas ainda morassem aqui; eu sei, elas seriam maiores do que eu, mas isso não importa, eu sei me comportar e sei brincar de muito coisa, até de bonecas. Não que eu goste, bonecas tem uma expressão congelada demais, mas se for necessário...
Tenho mais vizinhos; eles são...não sei o que eles são. Vê se me entende: eles são pessoas adoráveis - parece a velha Zalu falando. O tio da padaria me ensinou a fazer um bolo para o aniversário da minha mãe e a tia da banca deixa eu ler os gibis sem precisar comprá-los. Os outros...depois, eu falo dos outros.
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3. Uma noite sem sono.

Comentários

bozo. disse…
continuuuua. ;D e tu ainda faz questão de botar o título do próximo só pra deixar na vontade. =x

;*
= D disse…
to curiosa para ler o próximo =D

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